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Vínculos e experiências afetivo-sexuais por meio dos aplicativos de relacionamento

Cada vez mais as pessoas têm utilizado os apps em busca de encontros amorosos rápidos e/ou duradouros. Vamos procurar entender um pouco este comportamento pela luz da psicologia

Antigamente, nos tempos dos nossos pais e avós, as cartinhas de amor eram os instrumentos preferidos para a paquera e manutenção de um vínculo amoroso. Para a geração Y, nascidos a partir dos anos 80, as cartas ainda eram utilizadas, mas mais no ambiente escolar. Quando esta geração atingiu a idade jovem, acompanhando a explosão da internet, os chats on-line se transformaram no meio escolhido para a paquera.

Para a atual geração Z, nascidos a partir dos anos 90 e chamados de nativos digitais, os aplicativos de relacionamento são os meios disponíveis e mais convencionais para buscar vínculos e experiências afetivo-sexuais, dentro de ambiente totalmente virtual de paquera e abordagem.

florencio-juniorPara o psicólogo clínico, Dr. Florêncio M. Costa Júnior, do Instituto de Análise do Comportamento de Bauru (IACB), os atuais meios de comunicação virtual fizeram um upload em diferentes aspectos da vida humana. “Na era da cibercultura, conceitos como espaço, distância e tempo foram redimensionados. A paquera virtual, antes mediada por perfis descritivos nos sites de namoro, agora é ‘geo-localizada’ nos apps. Para algumas pessoas, a paquera por meio de interações presenciais talvez ainda permaneça como um tipo de comportamento analógico, do passado, utilizado em caso de ‘bug’ ou falta de bateria”, comenta.

O uso intensificado de aplicativos móveis para relacionamentos coloca as pessoas frente a uma das mais sensíveis transformações sociais da atualidade: a forma como existimos no virtual e como nos relacionamos nesses espaços. “De fato, as tecnologias estão possibilitando novas formas de nos relacionamos e estamos ainda aprendendo como tornar as interações mediadas pela tecnologia em experiências potencialmente reais e prazerosas. Tudo isso acaba incidindo sobre a forma como temos constituído novos horizontes relativos aos desejos sexuais e afetivos articulados por negociações sexuais e aprendizados tecnológicos”, opina o psicólogo.

Viver só no virtual?

Como em todo processo de aprendizagem, quando as pessoas são apresentadas diante de algo novo, os erros são aceitáveis até que o comportamento seja o mais assertivo possível. “Esta questão traz uma primeira pausa para refletir sobre a dimensão subjetiva: o que levaria alguém a criar uma ‘versão virtual’ dentro de uma rede social destinada a conhecer parceiras em potenciais? O quão sincero e afetuoso consigo mesmo essa pessoa tem sido na vida real ao criar sua versão virtual?”, questiona Júnior.

Dentro da psicologia, pode se chegar a um pensamento que, se as pessoas ‘recriam’ uma versão on-line, elas podem desejar apenas que a experiência afetivo-sexual permaneça no virtual e não aconteça no real.
“Existem pessoas que se satisfazem com os afetos e sexos virtuais, e isso basta. Já outras desejam experiências reais. Deixar isso claro a si mesmo pode facilitar no processo de aprender e também ensinar sobre a vida afetiva e sexual nos aplicativos de relacionamento”, analisa Dr. Florêncio.

A tecnologia não é neutra

A maneira como cada pessoa conduz suas interações no virtual pode ser potencialmente dolorosa ou prazerosa para quem está do outro lado. “Será que estamos conduzindo nossas interações de forma ética e humana ou, apenas atropelamos pessoas na medida em que analisamos as ofertas amorosas e sexuais disponíveis. Essas experiências estão encorajando aproximações ou, reforçando a ideia do distanciamento real? Estamos nos adaptando e garantido novas sociabilidades ou caminhamos para novos tipos de distanciamento?”, indaga o especialista.

Para o psicólogo, os aplicativos de relacionamento integram um complexo contexto no qual a dinâmica da vida contemporânea está pautada pela aceleração do tempo, maior exigência de produtividade e empobrecimento das relações sociais. “Também estamos expostos a uma ampla gama de ansiedades e demandas estimuladas por regras culturais que prescrevem o dever de sermos felizes, saudáveis, aventureiros. Adicionado a isso, as amplas possibilidades emocionais e sexuais ofertadas pelas novas tecnologias incidem fortemente sobre nossas formas de sentir e administrar modos de comunicação. Parece que estamos em uma espécie de ‘mercado on-line’ que se caracteriza como ambientes de escolhas sexuais e afetivas pautadas por critérios e lógicas parecidas com o mercado capitalista. É pensando nessa realidade que precisamos nos questionar sobre a forma como interagimos dentro dos ambientes virtuais”.

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